(des) Informação
A propósito do grande volume diário de informação acerca da pandemia por Covid-19, o Sindicato dos Jornalistas (SJ) emitiu hoje, dia 13 de abril, um comunicado no qual pede aos jornalistas “respeito pelas normas deontológicas”.
Preocupado com os inúmeros episódios de verbalização desmesurada e também com a falta de imparcialidade revelada em alguns casos, o SJ pede contenção às redações, referindo que “…a missão de informar… tem de ser desempenhada com um atento cuidado no respeito das regras deontológicas dos jornalistas”, condenando, por um lado, posturas alarmistas e, por outro, aquilo que chama de “interpretações”.
E muito bem! É mesmo isso… o papel de um jornalista competente e responsável, é o de informar… nunca o de interpretar, extrapolar ou, menos ainda, tomar partido.
E se é verdade que a Comunicação Social desempenha um serviço de interesse público que é essencial para a vitalidade dos regimes democráticos, não é menos verdade que esse serviço público só é realmente eficaz e sério quando desempenhado com rigor e com isenção.
Pois bem, aproveito a circunstância do comunicado emitido pelo SJ para manifestar o meu total repúdio por “um certo tipo de jornalismo” que, por estes dias, tem inundado as nossas casas com preocupante grau de impunidade.
Explico…
Não gosto de Donald Trump!
Não gosto do seu perfil machista… das suas ideias xenófobas… não gosto da pessoa que é!
Não gosto da sua falta de educação nem da sua postura enquanto estadista.
Consigo reconhecer os inquestionáveis méritos do desempenho da economia americana nos últimos anos mas não gosto, ainda assim, do Sr. Trump!
Mas gosto ainda menos de falta de profissionalismo!
Gosto ainda menos de todas as formas de oportunismo e sectarismo… e não gosto mesmo nada de qualquer tipo de desonestidade intelectual!
Por outro lado, não nutrindo eu um especial encanto pela Matemática, consigo reconhecer-lhe uma grande virtude… a Matemática não permite especulação!
Se não, vejamos…
Portugal tem uma população de 10,28 Milhões de habitantes e 16.934 casos de Covid-19 confirmados (dados de hoje). Os EUA têm uma população de 328,23 Milhões de habitantes e 554.849 casos confirmados (dados igualmente de hoje).
Aparentemente, para os mais desatentos e influenciáveis, os americanos têm um número de infetados brutalmente elevado e muito acima daquilo a que todos chamam “o bom exemplo” ou “o bom desempenho” de Portugal.
Mas, de facto, não é assim!
Não se pode comparar o incomparável… não é honesto!
Quando fazemos as contas, dividindo os casos conhecidos pelo total da população de cada um dos países, Portugal e os EUA têm, exatamente, a mesma percentagem de habitantes infetados pelo Coronavírus… 0, 0016%. Igual!
E quando fazemos as mesmas contas para o número de mortos em cada país, o cenário volta a ser quase idêntico. Ou seja, ao contrário do que é dito de forma repetida e massificada, a realidade americana é muito semelhante à nossa.
A verdade é que são quase diárias as referências aos Estados Unidos como sendo o país onde a pandemia do Covid-19 mais alastrou e onde o cenário é mais grave e catastrófico. Ainda hoje, o pivot da estação publica de televisão, que é, de resto, paga por todos nós, referia que os EUA “… continuam a liderar o número de casos em todo o mundo!”.
Ora, em primeiro lugar isto não se trata de um campeonato e depois, não deixando, na forma, de ser verdade… este é um bom exemplo de informação pouco clara ou tendenciosa e que de rigor tem muito pouco. É que, sendo um país muitíssimo maior e mais populoso, é natural que também tenha mais casos.
Assim, e se os Media devem, em qualquer circunstância, pautar a sua atuação por critérios de pluralismo e isenção… estas premissas assumem ainda maior importância em contextos como aquele que estamos a viver.
Hoje, o grande desafio colocado a cada um de nós é o de sermos cidadãos responsáveis e exemplares no cumprimento das orientações. O dos Media é o de informar com clareza e independência, não procurando, nunca, condicionar a nossa opinião acerca dos factos!
E, embora viva num país onde, lamentavelmente, isso não constituísse surpresa para ninguém, não vou, sequer, especular com a teoria do “jornalismo condicionado”, com ”a teia que está montada” ou com um, eventual, processo de intenção.
Prefiro acreditar que é apenas incompetência…
Alexandre Nascimento
Pode ler (aqui) outros artigos de opinião de Alexandre Gomes do Nascimento.
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